sábado, 26 de julho de 2008

O preço dos alimentos e...

...os alimentos industrializados.

Lembro-me de quando minha avó, ao sentar à mesa nos almoços de Domingo, bradava com seu bom humor napolitano: "Que martírio esta minha vida, quase 4 horas a preparar o almoço que será devorado em menos de 20 minutos".

Verdade seja dita, por mais sorrisos, elogios e carinhos que recebesse de seus 4 filhos e 10 netos a cada Domingo, se ainda vivesse nos dias de hoje ela já haveria de se ter rendido aos alimentos industrializados, semi-prontos ou àqueles que compramos nas rotisseries e que nos consomem apenas alguns minutos de observação à frente do micro-ondas.

Não é errado atestar que, se desejássemos hoje dominar a cozinha tradicional, como o fazia minha avó, teríamos de acrescentar pelo menos umas quatro horas nas 24 de que dispomos a cada dia. Em meio ao trabalho que nos consome além do horário do cartão de ponto, às visitas obrigatórias à academia, à rotina de levarmos nossos filhos à escola, ao curso de línguas, às aulas de Fu-Ken-Po, à nossa própria necessidade de estudos e reciclagem de conhecimentos, para não se falar das horas perdidas no trânsito das grandes cidades, o tempo que nos sobra para a dedicação à culinária não pode ser maior do que os poucos minutos perdidos à frente da gôndola de congelados ao ler as instruções de preparo nas embalagens.

É fato que a vida contemporânea "exige" nossa adaptação a este novo modo de alimentação.

Mas também é fato que, ao delegar às indústrias a preparação, acondicionamento e distribuição destes alimentos, nos vemos obrigados a suportar uma série de custos e a aceitar uma certa gama de "ingredientes" que não são exatamente tão saudáveis quanto os que minha avó estava acostumada a utilizar.

Do ponto de vista do custo, ao comprar uma caixinha de suco de laranja, além de pagar pelo produto que ela contém você também estará pagando para própria embalagem, pelos salários dos funcionários do fabricante, pela energia elétrica e depreciação dos equipamentos envolvidos no processo industrial pelo qual ele passa, pagará ainda pelo combustível utilizado em toda a cadeia logística envolvida, pelo espaço de armazenagem em cada uma das empresas nas quais os diferentes itens que compõem aquele produto são produzidos, pelas comissões de vendas, pela campanha de marketing e, óbviamente, estará suportando os lucros de cada um dos parceiros que compõem a intrincada teia que se forma atrás daquela inocente caixinha.

Além disto, é claro que você já ouviu falar de "valor agregado". O valor agregado é uma técnica utilizada pela indústria para adiconar ainda mais valor ao produto que oferece aos seus consumidores, cobrando por ele um preço ainda maior do que o que seria apenas justo. No entanto, este valor nem sempre está ligado à qualidade nutricional do alimento ou ao seu sabor. Entenda por valor agregado uma boa campanha de marketing, uma embalagem diferenciada ou a aditivação de componentes como vitaminas e minerais que não são exatamente aqueles que deveriam existir ali dentro.

E por se falar em vitaminas, parece óbvio que, após uma linha de produção tão extensa, os valores nutricionais dos produtos embalados nos saquinhos, latas e caixinhas, não poderão ser os mesmos que os encontrados nos produtos "in-natura". Ou você acha possível que aquele pacotinho de sopa industrializada contenha muito mais do que amido, aromatizantes e alguns outros produtos de baixo valor nutricional?

Justamente este aspecto pouco nutritivo dos alimentos que consumimos acaba por nos trazer ainda mais custos, quando passamos a necessitar de suplementação de vitaminas e minerais, que hoje compramos nas farmácias, ao contrário do tempo de minha avó, que os encontrava na quitanda vizinha de sua casa.

Agora você deve estar realmente bravo comigo, pensando que este doido aqui não deve ter mais nada a fazer senão apurrinhá-lo com idéias malucas que, sequer, poderão ser postas em prática, pois como todo mortal, você certamente não tem tempo algum para dedicar-se à culinária.

Mas veja que interessante, a modernidade também possui algumas descobertas que nos adiantam muito a vida. Já faz algum tempo que inventaram-se máquinas fabulosas que extraem sucos deliciosos e nutritivos de praticamente qualquer vegetal em poucos segundos, como as centrífugas, ou iogurteiras que preparam, praticamente sozinhas, deliciosos iogurtes com polpas de frutas naturais que beiram o manjar dos deuses. Há, ainda, panificadoras domésticas automáticas que preparam pães integrais maravilhosos apenas ao toque de um botão.

Com o avanço do conhecimento, descobriu-se também que a mais importante refeição do dia é a primeira, bem como que o seu jantar deve ser mínimo. Assim, se você conseguir se organizar para deixar seu iogurte natural preparado e os vegetais e frutas já lavados, poderá, em poucos minutos dar-se ao luxo de um café da manhã delicioso, barato e absolutamente nutritivo, resolvendo boa parte de sua alimentação diária.

E como não só eu e você vivemos nos concorridos tempos modernos, multiplicam-se nas estantes das livrarias e nos sites de culinária receitas simples, rápidas, práticas, nutritivas e absolutamente fabulosas em sabor.

Enfim, agora que você já conseguiu dividir suas compras ao longo da semana e já consegue fazê-las no comércio próximo à sua casa, talvez esteja pronto a saltar para o próximo passo e preparar os alimentos de sua família.

É claro que não é uma tarefa fácil, mas as boas surpresas poderão ser muitas. Garanto que você jamais encontraria o sabor e frescor de um suco de abacaxi com hortelã e salsa numa caixinha, assim como todas as sensações de saborear uma sopa de abóbora com gengibre se tentar prepará-la a partir de um pacotinho.

Além de economizar alguns reais, você estará consumindo uma alimentação absolutamente mais nutritiva e saudável e estará se arriscando a receber de sua família todos aqueles elogios e carinhos com os quais minha vó contava a cada Domingo.

Para ajudá-lo nesta tarefa estão aí algumas dicas. Divirta-se...

Livro de Receitas Dona Benta > Peça o seu Grátis

Receitas Simples > Site com algumas receitas interessantes

Algo Sobre Vitaminas > Uma introdução sobre vitaminas e alimentos

O Poder dos Sucos > Livro de Jay Kordich

As Vitaminas do Futuro > Livro de Wilson Kamargo

Todos os Sentidos > Site com dicas interessantes e algumas receitas

CONSEA > Conselho Nacional de Segurança Alimentar

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O preço dos alimentos e...

... os hipermercados

Amplos estacionamentos, corredores largos e bem iluminados, uma aparente enorme variedade de produtos, sem se falar nas riquíssimas campanhas publicitárias e nas tais "ofertas da semana", ou do dia, ou do minuto.

Não há como se negar que o apelo destes templos de consumo seja realmente irresistível. Mas será mesmo que estas megaempresas, donas de um capital financeiro comparável às exploradoras de petróleo e capazes de manipular até o sistema econômico e político de seus países são mesmo a melhor opção no momento de fazermos nossas compras?

Se sua resposta for sim e sua justificativa a variedade de produtos que elas ofertam, façamos um pequeno teste. Experimente entrar numa destas lojas à procura da Manteiga Aviação em lata, a mesma que minha avó dizia ser a mais gostosa, além de economizar na conta da luz por não precisar ir à geladeira.

Depois de vinte minutos seu pensamento será: "Se era do tempo da avó dele, já nem deve existir mais". Engano seu, ela existe e continua sendo a mais gostosa. Insista um pouco mais e você a encontrará numa pequena cesta no pé da gôndola refrigerada onde uma parede de 3 metros de altura e 5 de comprimento da margarina de sebo de galinha(argh!) de marca mais famosa desvia sua atenção.

Faça o mesmo com os sucos em caixinha. Você acha mesmo que, num país tropical de dimensões continentais existam apenas 3 ou 4 fabricantes destes produtos e nehum seja genuinamente natural?

Agora, se sua justificativa for o argumento preço, volte a qualquer um destes hipermercados, seja ele o "Motofurto", o "Uol Barte" ou o "Presta" e observe atentamente a diferença de preços entre as diferentes marcas de um mesmo produto. Não é raro que aquele que aparece mais e tem o preço menor, esteja com o prazo de validade já próximo do vencimento. Além disto, também não é raro descobrir que para alguns produtos, como os vidros de azeitonas, apenas duas ou três marcas estão expostas, com preços muito semelhantes.

E veja que nova observação: você já se perguntou como é possível que uma equipe repositora tão eficiente, capaz de manter as gôndolas abastecidas e organizadas até nos dias mais movimentados é capaz de ser tão displiscente, a ponto de "esquecer" de afixar os preços dos produtos? E note ainda a seguinte coincidência: Normalmente estes "erros" ocorrem com produtos de sua marca preferida, quando junto a eles estão montanhas do mesmo produto da tal "marca própria".

Finalmente, tente procurar o gerente do estabelecimento e reclamar do aumento de preços dos produtos. Se você o encontrar e ele estiver de bom humor, ouvirá que o problema é dos fornecedores que, descaradamente, aumentam os custos deixando o mercado "sem opção". Mas se estes megaempreendimentos multinacionais manipulam seus consumidores sem a menor cerimônia, imagine o que são capazes de fazer com seus fornecedores. Não se iluda, em todo o sistema econômico, quem detém o poder de manipular os preços são aqueles que possuem os maiores capitais.

A conclusão é que, no momento de definir preços para os alimentos, são estes mega-conglomerados que possuem as melhores condições de atuar junto aos fornecedores, dotados de seus processos de manipulação do consumidor, conseguindo os melhores preços de compra de maneira a auferir os maiores lucros possíveis.

A solução? Agora que você já conseguiu dividir suas visitas ao mercado durante a semana, já não necessita de ir às compras de carro, para usar o mega-estacionamento, e nem daqueles carrinhos enormes que exigem os largos corredores.

Assim, dê preferência aos pequenos comércios de seu bairro. Neles, além de encontrar os mesmos produtos, com qualidade igual ou superior, você poderá ter a grata surpresa de encontrar preços muito mais interessantes do que já viu em sua vida.

E quanto mais especializado o comércio, melhor. A carne deve ser comprada no açougue, o comércio de laticínios pode lhe fornecer os queijos e embutidos. Para as frutas e hortaliças prefira a quitanda, deixando os industrializados para o mercadinho do Sr. José. E quanto às meias-calças, lâmpadas e abridores de latas? Bem, as lojas de confecções, as casas de ferragens e as lojinhas de 1,99 também estão espalhadas por todos os bairros.

A mágica destes pequenos comércios? Eles não possuem os gigantescos custos agregados das multinacionais, além de respeitar a opinião e o caráter daquele de quem dependem muito mais. Você.

Quando você tiver de reclamar dos preços ou da qualidade em algum destes estabelecimentos, provavelmente será atendido pelo próprio dono que, preocupado em perder um freguês que representa muito de seu faturamento, irá se esforçar em brigar com o fornecedor, em desenvolver um novo produto, em lhe oferecer algum tipo de desconto ou outra opção qualquer que lhe seja muito interessante.

Além disto, ao injetar seu suado dinheirinho no comércio local, você estará dando a estes comerciantes um "poder de fogo" cada vez maior e colaborando para desenvolver economicamente o local onde vive e suas cercanias, melhorando, como um todo, a comunidade na qual você está inserido.

Isto ocorre porque, diferentemente das multinacionais, que enviam seus lucros para os acionistas ligados às suas matrizes além-mar, os pequenos comerciantes utilizam seus lucros para desenvolver o próprio comércio e acabam "espalhando" este desenvolvimento através da contratação de novos funcionários, de prestadores de serviços e novos fornecedores, sempre dando preferência àqueles que lhes estão próximos.

Se ainda assim, você disser que não tem tempo a perder e prefere "resolver tudo de uma vez", lembre-se de que nenhum tempo é perdido. Entre as visitas ao açougue e à padaria, você sempre poderá encontrar um novo amigo com quem trocar bons minutos de conversa.

Já pensou em botar a fofoca em dia com a D. Maria da quitanda? Tenho certeza de que ninguém conhece mais os hábitos da vizinhança do que ela.

Se quiser saber mais a respeito de manipulação econômica, conheça a obra de Adam Smith e sua teoria da "Mão Invisível"

Divirta-se sempre...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O preço dos alimentos e...

...as compras do mês.

Com este eu inicio aqui uma série de artigos que tratarão deste assunto que tem ameaçado nossas noites de sono. Aqui mesmo neste blog, no artigo “A agricultura tradicional e suas mazelas”, nós já tratamos de desvendar os motivos da atual crise de preços dos alimentos e sua conseqüência pelo mundo afora.

Ainda que não nos seja possível, como pequenas formigas que somos, atuar diretamente nos mercados mundiais e reduzir os preços daquele que nos é o mais sagrado dos produtos, existem algumas atitudes que podemos tomar em nossa vida pessoal para minimizar os efeitos nefastos da inflação que nos assola e preocupa.

Desde os tempos da hiperinflação nós, os brasileiros, nos acostumamos a fazer a tal “compra dos mês”. Naquela época fazia todo o sentido estocar os alimentos no mesmo dia em que o salário era depositado em nossa conta pois, se deixássemos para amanhã, talvez só pudéssemos levar para casa a metade dos produtos.

No entanto, como conseqüência desagradável desta ação, boa parte dos alimentos que compramos em nossa visita mensal ao supermercado, seja in natura, seja após sua preparação, acaba indo parar num lugar bem menos interessante do que se ficasse naquela gôndola.

"Um estudo histórico a respeito das civilizações européias desde antes dos tempos de Roma demonstrou que, nos períodos de maior escassez de alimentos, estes poderiam ser fartamente encontrados... no lixo." (Luciano Legaspe)

Isto explica-se pelo fato de que, ao estocar produtos perecíveis, principalmente em locais de clima tropical e alta umidade, como o nosso, a chance de que se deteriorem antes do consumo é muito alta.

Ainda que nos tempos contemporâneos, onde as geladeiras e freezeres são equipamentos onipresentes em nossos lares, as duas atitudes sobre as quais eu mais ouço falar na cozinha são, “a mania de fulana de guardar os restinhos de alimentos em potinhos na geladeira” e a necessidade de “limpar a geladeira”, de quando em quando, para jogar fora o conteúdo dos tais potinhos junto com as cenouras, tomates, brócolis (argh!) e folhas estragadas da gaveta de verduras.

Além disto, não é raro ouvir nas reuniões informais com os amigos comentários do tipo “é claro que tinha que engordar, a patroa insiste em cozinhar um panelaço de arroz, e quatro bifes à parmegiana para o jantar”, fora o pudim e a torta de limão que, apesar de lutar bravamente o casal sem filhos não consegue consumir e as sobras acabam parando, adivinhem... num daqueles potinhos. E não trata-se de simples pujança, a preocupação maior da "patroa" sempre será a de que os alimentos não se estraguem na geladeira.

Se nós pudéssemos diminuir o tamanho de nossa despensa e programar os cardápios de nossas refeições com antecedência, dando atenção ao tamanho das porções que preparamos, seríamos capazes de fazer duas ou três aquisições de alimentos em cada semana, comprando apenas os produtos que realmente seriam consumidos nos próximos três ou quatro dias.

Assim, além de evitarmos que cheguem ao lixo, ao diminuir a quantidade dos alimentos preparados também reduziríamos o consumo da energia elétrica ou do gás empregados no processamento e refrigeração das porções extras.

Com isto, estaríamos economizando boa parte do salário pelo qual dispendemos muito de nosso suor, além de colaborar em nossa eterna briga contra aquele monstro que sempre parece torcer por nossa derrota... a balança que dorme embaixo da pia do banheiro.

Como sei que não é tarefa fácil a de organizar a vida doméstica, desejo boa sorte a quem se aventurar na empreitada. Divirtam-se...